divórcio ou casamento eterno?...

2009-11-09

Muros a mais, aberturas a menos

Faz hoje 20 anos que caiu o muro de Berlim.
Caiu é uma força de expressão: foi deitado abaixo, foi arrasado. Centenas, milhares de pessoas conseguiram libertar a raiva e a revolta tantos anos comprimidas no seu coração e com a fúria transformadora das suas mãos soltaram uma energia libertadora que arrancou pedra a pedra esses quilómetros de desprezo e exclusão humanos, construídos numa noite. Construídos para separar: separar regimes políticos; mas também separou famílias, amigos, conhecidos, a quem apenas ficara a possibilidade de um aceno a centenas de metros.
Recordar a queda deste muro é não só recordar um ponto alto da humanidade, mas também demonstrar que, quando as pessoas querem, não há muros que resistam.
É, pois, importante celebrar esta data. Para prceber a indignidade do seu significado. Para recordar até que ponto somos capazes de chegar. Para mostrar aos mais novos aquilo de que o ser humano, nós somos capazes. Como é bom recordar e não deixar esquecer ouros pontos tão negros como a Inquisição, os Gulags ou o Holocausto!

Mas esta recordação não nos deve fazer esquecer outros muros também de pedra que ainda hoje existem: na Cisjordânia, para separar israelitas e palestinianos ou asfixiar estes últimos dificultando a deslocação para os seus locais de trabalho ou impedindo a partilha de produtos; entre a Índia e o Bangladesh, que condena à fome tantos pequenos agricultores que não podem cultivar os campos estraçalhados pelo muro nem podem vender os produtos que ainda conseguem cultivar; entre os Estados Unidos e o México, que impede tantos migrantes de procurar melhores formas de vida para si e para os seus.

Depois há os muros móveis: barcos que patrulham pela calada da noite as costas marítimas, por todo o lado, incluindo a Europa. E se destaco a Europa é porque a Europa somos nós e porque assim vamos construindo uma Europa, cuja vocação, que foi sempre a abertura aos outros, a tornar-se numa fronteira de “arame farpado”.

Mas há também e sobretudo os muros invisíveis, pais destes muros visíveis, que crescem nos nossos corações e se alimentam dos nossos argumentos racistas. São os muros que eu nem sei que tenho, mas que me separam do outro que tenha uma cor diferente, seja de pele, de sexo, de opinião, de partido, de nação, de religião, de cultura. São os muros que por serem invisíveis são tanto difíceis de deitar abaixo. São muros que nós cultivamos, tantas vezes sem dar por isso, com as nossas atitudes e sobretudo com os nossos preconceitos, que consideramos apenas conceitos e que frutificam no nosso coração: “Do coração procedem as más intenções, os assassínios, os adultérios, as prostituições, os roubos, os falsos testemunhos e as blasfémias. É isto que torna o homem impuro e não o comer com as mãos por lavar” (Mt 15, 19-20). Estas palavras têm 2000 anos, mas continuam actuais.

É bom recordar o muro de Berlim.
Mas recordá-lo historicamente é pouco. É preciso recordá-lo para exigir o fim de todos os outros muros materiais, móveis e interiores. É importante pedir perdão pelos muros passados, mas continuar a construí-los hoje é, no mínimo, hipocrisia, essa “virtude”humana tão frequente e tão legitimadora de interesses momentâneos e egoístas.

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