divórcio ou casamento eterno?...

2009-11-11

CinV (45) Mudanças culturais (nº 26)

As diferenças culturais relativas a época de Paulo VI são “ainda mais acentuadas”, porque então “apresentavam-se bastante bem definidas e tinham maiores possibilidades para se defender das tentativas de homogeneização cultural”.
Hoje, devido sobretudo à globalização, aos movimentos da alterglobalização e às TIC, “cresceram notavelmente as possibilidades de interacção das culturas”, o que acarreta aspectos positivos e alguns perigos, que “se não forem acompanhados constantemente por um discernimento atento, podem voltar-se contra o homem, terminando por empobrecê-lo, em vez de enriquecê-lo” (Discurso de 15.Junho.2007):

1) a possibilidade de “um diálogo que, para ser eficaz, deve ter como ponto de partida uma profunda noção da específica identidade dos vários interlocutores”;

2) o perigo de um “ecletismo cultural assumido muitas vezes sem discernimento: as culturas são simplesmente postas lado a lado e vistas como substancialmente equivalentes e intercambiáveis umas com as outras”, com cedências ao relativismo:
- ético: Bento XVI fala continuamente da ditadura do relativismo: antes como cardeal (várias vezes), depois na homilia do Conclave (“Quantos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos decénios, quantas correntes ideológicas, quantas modas do pensamento (…). A pequena barca do pensamento de muitos cristãos foi muitas vezes agitada por estas ondas, lançadas de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, até à libertinagem, ao colectivismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo e por aí adiante. (…) Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, muitas vezes é classificado como fundamentalismo, enquanto o relativismo, isto é, deixar-se levar 'aqui e além por qualquer vento de doutrina', aparece como a única atitude à altura dos tempos hodiernos. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e as suas vontades”) ou na Audiência geral de 5.Ag.2009: “Se então (no tempo do S.to Cura d’Ars) havia a "ditadura do racionalismo", na época actual regista-se em muitos ambientes uma espécie de "ditadura do relativismo". Ambas parecem ser respostas inadequadas à maior exigência do homem, de usar plenamente a sua razão como elemento distintivo e constitutivo da própria identidade. O racionalismo foi inadequado porque não teve em consideração os limites humanos e pretendeu elevar apenas a razão como medida de todas as coisas, transformando-a numa deusa; o relativismo contemporâneo mortifica a razão, porque de facto chega a afirmar que o ser humano nada pode conhecer com certeza, para além do campo científico positivo. Porém, tanto hoje como ontem, o homem "mendicante de significado e de cumprimento" vai à procura contínua de respostas exaustivas às interrogações fundamentais que não cessa de levantar”;
- cultural, que “faz com que os grupos culturais se juntem ou convivam, mas separados, sem autêntico diálogo e, consequentemente, sem verdadeira integração”;
3) e um outro perigo, oposto, o do “nivelamento cultural e a homogeneização dos comportamentos e estilos de vida”, uma espécie de generalização do “pensamento único”.
Estes dois perigos acarretam a perda do “significado profundo da cultura das diversas nações, das tradições dos vários povos, no âmbito das quais a pessoa se confronta com as questões fundamentais da existência” e “a humanidade corre novos perigos de servidão e manipulação”.

Apesar da amplitude de significados da cultura (cf GS 53-62), todo o ser humano é produtor e consumidor de cultura, pois toda a sua actividade "tem lugar numa cultura e nela se integra" (CA 51). A cultura apresenta-se assim não como um luxo, mas como uma componente essencial da pessoa, e, portanto, não pode ser maculada pelo etnocentrismo nem pelos fundamentalismos.

O nº 55 aborda o tema das culturas e das religiões.

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