divórcio ou casamento eterno?...

2009-11-30

CinV (57) Terrorismo

As violências, qualquer que seja o seu tipo, são sempre um travão ao desenvolvimento, mas “de modo especial o terrorismo de índole fundamentalista, que gera sofrimento, devastação e morte, bloqueia o diálogo entre as nações e desvia grandes recursos do seu uso pacífico e civil” (28).
Na sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2006, Bento XVI já abordara o tema nestes termos: “Hoje em dia, a verdade da paz continua a ser comprometida e negada, de maneira dramática, pelo terrorismo que, com as suas ameaças e acções criminosas, é capaz de manter o mundo num estado de ansiedade e insegurança… A tremenda responsabilidade dos terroristas e a insensatez dos seus desígnios de morte… estão inspirados por um niilismo trágico e desconcertante, que o Papa João Paulo II descrevia com estas palavras: «Quem mata, com actos terroristas, cultiva sentimentos de desprezo pela humanidade, manifestando desespero pela vida e pelo futuro: nesta perspectiva, tudo pode ser odiado e destruído». E não é só o niilismo; também o fanatismo religioso, hoje frequentemente denominado fundamentalismo, pode inspirar e alimentar propósitos e gestos terroristas… Bem vistas as coisas, o niilismo e o fundamentalismo relacionam-se de forma errada com a verdade: os niilistas negam a existência de qualquer verdade, os fundamentalistas avançam a pretensão de poder impô-la com a força. Mesmo tendo origens diversas e sendo manifestações que se inserem em contextos culturais distintos, o niilismo e o fundamentalismo têm em comum um perigoso desprezo pelo homem e sua vida e, em última análise, pelo próprio Deus. Com efeito, na base deste trágico recurso está, em definitivo, a falsificação da verdade plena de Deus: o niilismo nega a sua existência e providencial presença na história; o fundamentalismo fanático desfigura a sua face amorosa e misericordiosa, substituindo-O por ídolos feitos à própria imagem. Ao analisar as causas do fenómeno contemporâneo do terrorismo, é desejável que, além das razões de carácter político e social, se tenham em conta também as mais profundas motivações culturais, religiosas e ideológicas” (9-10).

É certo que a violência sempre existiu e há-de existir.
Mas hoje, ao lado das violências "clássicas", estamos confrontados com um novo tipo, cujo paradigma é o atentado de 11 de Setembro (2001):
- novo, nos objectivos: destruições maciças, impacto simbólico (ataque ao poder económico, militar e político da maior potência mundial) e sobretudo um enorme choque psicológico que atinja o maior número de pessoas (transmissão em directo pela TV);
- novo, nas características: global, mas em rede hierarquizada, na sua organização, dimensão e objectivos; não reivindicativo de nada do que é habitual: independência de um território, cedências políticas, mudanças de regime; parece, mais, uma espécie de castigo: “a bandeira do Islão contra a bandeira da cruz” (Bin Laden);
- novo, até nas armas: avião carregado de combustível.

Estas novidades deviam levar-nos a pensar com maior profundidade as causas que, dada a complexidade do problema, são muitas e diversas:
- para uns, o ódio dos árabes aos Estados Unidos pelo seu apoio a Israel;
- para outros, a globalização por ter agravado as injustiças e as desigualdades à escala planetária, aumentando o desespero e o rancor de milhões de pessoas dispondo-as a revoltar-se e a alinhar nas soluções mais radicais, e por ter enfraquecido os Estados, ao desvalorizar a política e desmantelar os principais meios reguladores;
- para alguns, o choque de civilizações ou de religiões.
Para lá de tudo isto, penso que não tem sido suficientemente tido em conta o "sentimento árabe recalcado": o mundo árabe, desde que os ocidentais estraçalharam o império otomano, nunca mais recuperarou a sua identidade, não conseguiram unir-se o suficiente para terem uma liderança forte (a União Europeia pode ajudar a compreender este aspecto) e anseiam desesperadamente por retomar a enorme influência internacional que tiveram até aos inícios do século XX e que tem sido sucessivamente adiada devido a circunstâncias várias, a última das quais terá sido a criação do Estado de Israel.
Só há um caminho para romper as espirais da violência é o perdão, não só enquanto capacidade de perdoar mas também de pedir perdão, como ontem referi.

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