divórcio ou casamento eterno?...

2009-12-02

CinV (59) Caridade e Saber (nº 30)

Para o desenvolvimento humano ser integral tem de estar ao serviço de todas as pessoas e todos os povos, o que implica a sua interdisciplinaridade, isto é, “fazer interagir os diversos níveis do saber humano”. Não basta tomar medidas socioeconómicas avulsas. Não basta actuar em conjunto, pois “este agir comum precisa de ser orientado, porque «toda a acção social implica uma doutrina». Vista a complexidade dos problemas, é óbvio que as várias disciplinas devem colaborar através de uma ordenada interdisciplinaridade”.
Esta interligação é cada vez mais fundamental em todos os ramos do saber; cada tema, sobretudo se envolve o ser humano, será sempre limitado e pouco informativo se ficar enclausurado no campo restrito de uma única disciplina.
Mas o Papa vai mais longe. Não se trata apenas de uma ligação íntima entre os vários saberes, mas é preciso que essa articulação íntima envolva a caridade: “A caridade não exclui o saber, antes reclama-o, promove-o e anima-o a partir de dentro. O saber nunca é obra apenas da inteligência; pode, sem dúvida, ser reduzido a cálculo e a experiência, mas se quer ser sapiência capaz de orientar o homem à luz dos princípios primeiros e dos seus fins últimos, deve ser «temperado» com o «sal» da caridade”.
É importante chamar a atenção para esta articulação fundamental porque ela ainda está longe de ter entrado na mentalidade e na actividade de muitos cristãos e instituições cristãs. E é essencial porque “a acção é cega sem o saber, e este é estéril sem o amor. De facto, «aquele que está animado de verdadeira caridade é engenhoso em descobrir as causas da miséria, encontrar os meios de a combater e vencê-la resolutamente» (PP 75)”.
O Papa já dera conta, na primeira encíclica, desta sua preocupação. Por um lado "é muito importante que a acção caritativa da Igreja mantenha todo o seu esplendor e não se dissolva na organização social comum, tornando-se uma simples variante desta" (CDE 31). Por outro, tendo em conta que, como referi, em muitas situações o que funciona é apenas o voluntarismo, o Papa recorda que é precisa também a competência técnica (o saber da inteligência); mas, além disso, pelo menos aos cristãos, pede-se-lhe também muito mais: a prática da humanidade (o saber do coração) à maneira do bom samaritano: “ A competência profissional é uma primeira e fundamental necessidade, mas por si só não basta. É que se trata de seres humanos, e estes necessitam sempre de algo mais que um tratamento apenas tecnicamente correcto: têm necessidade de humanidade, precisam da atenção do coração. Todos os que trabalham nas instituições caritativas da Igreja devem distinguir-se pelo facto de que não se limitam a executar habilidosamente a acção conveniente naquele momento, mas dedicam-se ao outro com as atenções sugeridas pelo coração, de modo que ele sinta a sua riqueza de humanidade. Por isso, para tais agentes, além da preparação profissional, requer-se também e sobretudo a «formação do coração»: é preciso levá-los àquele encontro com Deus em Cristo que neles suscite o amor e abra o seu íntimo ao outro de tal modo que, para eles, o amor do próximo já não seja um mandamento por assim dizer imposto de fora, mas uma consequência resultante da sua fé que se torna operativa pelo amor” (DCE 31).
É por isso que “a caridade na verdade requer, antes de mais nada, conhecer e compreender no respeito consciencioso da competência específica de cada nível do saber. A caridade não é uma junção posterior, como se fosse um apêndice ao trabalho já concluído das várias disciplinas, mas dialoga com elas desde o início. As exigências do amor não contradizem as da razão. O saber humano é insuficiente e as conclusões das ciências não poderão sozinhas indicar o caminho para o desenvolvimento integral do homem. Sempre é preciso lançar-se mais além: exige-o a caridade na verdade. Todavia ir mais além nunca significa prescindir das conclusões da razão, nem contradizer os seus resultados. Não aparece a inteligência e depois o amor: há o amor rico de inteligência e a inteligência cheia de amor”.

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