divórcio ou casamento eterno?...

2009-12-05

CinV (62) Progresso (nº 33)

Paulo VI dedicara especial atenção a este tema. Avançou com princípios orientadores, fez propostas de reforma dos vários sistemas internacionais, defendeu a solidariedade entre todos, tanto a nível das pessoas como das nações, assinalou que um progresso para ser autêntico teria que ser integral e solidário, isto é, implicar “o homem todo e todos os homens”. A sua encíclica foi uma violenta pedrada no charco, cujas ondas de choque rapidamente foram esquecidas.

Por isso, passados 20 anos, João Paulo II volta ao assunto com a encíclica Sollicitudo rei socialis. Tendo como referência constante o destino universal dos bens (que recorda 11 vezes) e o primado da pessoa, denuncia o contraste chocante entre o superdesenvolvimento e o subdesenvolvimento apontando como suas causas “a avidez exclusiva do lucro e a sede do poder a qualquer custo” (SRS 38). Proclamou que a estas “estruturas de pecado” e “mecanismos perversos” que alimentam as desigualdades só se pode responder com reformas estruturais dos estilos de vida e dos mecanismos de comércio internacional (SRS 43), que tenham como base:
- um novo sistema de valores baseado na solidariedade, cujo conteúdo “não é um sentimento de compaixão vaga ou de enternecimento superficial pelos males sofridos por tantas pessoas próximas ou distantes, mas é a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum; ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos” (SRS 38);
- a convicção de que todos somos irmãos e constituímos uma única família: “A consciência da paternidade comum de Deus, da fraternidade de todos os homens em Cristo, «filhos no Filho», e da presença e da acção vivificante do Espírito Santo conferirá ao nosso olhar para o mundo como que um novo critério para o interpretar. Por cima dos vínculos humanos e naturais, já tão fortes e estreitos, delineia-se, à luz da fé, um novo modelo de unidade do género humano, no qual deve inspirar-se em última instância a solidariedade. Este supremo modelo de unidade, reflexo da vida íntima de Deus, uno em três Pessoas, é o que nós cristãos designamos com a palavra «comunhão».” (SRS 40).

Bento XVI lamenta que o progresso “permaneça ainda um problema em aberto”, especialmente agudizado com a actual crise:
- algumas regiões, “outrora oprimidas pela pobreza, registaram mudanças notáveis em termos de crescimento económico e de participação na produção mundial” e aqui podiam recordar-se os avanços espectaculares conseguidos pela China e pela Índia;
- outras, “vivem ainda numa situação de miséria comparável à existente nos tempos de Paulo VI; mais, em certos casos pode-se mesmo falar de agravamento”, como é a situação na África subsariana.
Recorda causas já antigas, umas que se mantiveram e outras que foram evoluindo:
- Paulo VI acusara, por exemplo, “as altas tarifas aduaneiras impostas pelos países economicamente desenvolvidos que ainda impedem os produtos originários dos países pobres de chegar aos mercados dos países ricos”;
- Bento XVI destaca o processo de descolonização, cuja condução por culpa de ambas as partes ou de terceiros, nem sempre, ou melhor, a maior parte das vezes, não conduziu aos resultados desejados: na altura, esperava-se ou sonhava-se “um percurso de autonomia que havia de realizar-se na liberdade e na paz; quarenta anos depois, temos de reconhecer como foi difícil tal percurso, tanto por causa de novas formas de colonialismo e dependência de antigos e novos países hegemónicos, como por graves irresponsabilidades internas aos próprios países que se tornaram independentes”.

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