divórcio ou casamento eterno?...

2009-12-07

CinV (63) Colonização

A propósito da citação com que terminei o último comentário – “um percurso de autonomia que havia de realizar-se na liberdade e na paz; quarenta anos depois, temos de reconhecer como foi difícil tal percurso, tanto por causa de novas formas de colonialismo e dependência de antigos e novos países hegemónicos, como por graves irresponsabilidades internas aos próprios países que se tornaram independentes” – lembro que estes processos, muito deles ínvios não são novos. Por isso, hoje se fala em neo-colonialismo .
A colonização, surgida com as Descobrimentos de novos Povos que viviam uma dinâmica cultural muito diferente da nossa, foi, por nós, os europeus, especialmente portugueses e espanhóis, quase transformada num verdadeiro genocídio, pois levou à morte milhões de pessoas porque erradicámos os seus hábitos e costumes, contaminámos as populações locais com doenças para as quais não dispunham de anti-corpos, escravizámos muitos deles. E tudo isto, um pouco por causa da fé e muito por causa do dinheiro.

A propósito queria recordar aqui uma carta. É possível que muitos a conheçam, mas mesmo assim não resisto a publicá-la, sobretudo porque ajuda a colocarmo-nos na “pele do outro”, exercício que é tanto difícil e tão raro.
Trata-se de uma carta aberta que Guaipuro Cuauhtémoc, chefe índio azteca, enviou aos governos da Europa, a propósito do debate internacional sobre a questão da dívida externa:
“Também eu posso reclamar pagamentos. Também posso reclamar juros. Consta no Arquivo das Índias, papel sobre papel, assinatura sobre assinatura, que só entre os anos de 1503 e 1660 chegaram a San Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes das Américas. Saque? Deus me livre de pensar assim! Porque seria pensar que os irmãos cristãos faltam ao seu sétimo mandamento. Expoliação? Guarde-me o céu de imaginar que os europeus, tal como Caim, matam e depois negam o sangue do irmão. Genocídio? Isso seria dar crédito a caluniadores, como Bartolomeu de Las Casas, que qualificaram o nosso encontro de destruição das Índias, ou a radicais, como o doutor Arturo Pietri, que afirma que o arranque do capitalismo e da actual civilização europeia se deveu à inundação de metais preciosos arrancados por vocês, meus irmãos europeus, aos meus também irmãos da América. Não! Esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata devem ser considerados como o primeiro de vários empréstimos amigáveis da América para o desenvolvimento da Europa (…), o início de um Plano Marshall para assegurar a reconstrução da bárbara Europa, arruinada pelas suas deploráveis guerras contra os cultos muçulmanos, introdutores da álgebra, da arquitectura, do banho diário e outras conquistas superiores da civilização”.

Embora "politicamente pouco correcta", esta carta, olhada numa perspectiva planetária (não estamos na era da globalização?), representa um (outro) ponto de vista, que nos deveria fazer reflectir: a nós, que tanto falamos de direitos dos povos, mas na prática temos muita dificuldade em resistir a um etnocentrismo auto-suficiente.

1 Comentários:

Anonymous OTONIEL AJALA DOURADO disse...

SÍTIO CALDEIRÃO, O ARAGUAIA DO CEARÁ: UM GENOCÍDIO 72 ANOS NA IMPUNIDADE!




No CEARÁ, para quem não sabe, houve também um crime idêntico ao do “Araguaia”, contudo em piores proporções, foi o MASSACRE praticado por forças do Exército e da Polícia Militar do Ceará no ano de 1937, contra a comunidade de camponeses católicos do Sítio da Santa Cruz do Deserto ou Sítio Caldeirão, que tinha como líder religioso o beato JOSÉ LOURENÇO, seguidor do padre Cícero Romão Batista.



A ação criminosa deu-se inicialmente através de bombardeio aéreo, e depois, no solo, os militares usando armas diversas, como fuzis, revólveres, pistolas, facas e facões, assassinaram mulheres, crianças, adolescentes, idosos, doentes e todo o ser vivo que estivesse ao alcance de suas armas, agindo como feras enlouquecidas, como se ao mesmo tempo, fossem juízes e algozes.


Como o crime praticado pelo Exército e pela Polícia Militar do Ceará foi de LESA HUMANIDADE / GENOCÍDIO / CRIME CONTRA A HUMANIDADE é considerado IMPRESCRITÍVEL pela legislação brasileira bem como pelos Acordos e Convenções internacionais, e por isso a SOS - DIREITOS HUMANOS, ONG com sede em Fortaleza - Ceará, ajuizou no ano de 2008 uma Ação Civil Pública na Justiça Federal contra a União Federal e o Estado do Ceará, requerendo que sejam obrigados a informar a localização exata da COVA COLETIVA onde esconderam os corpos dos camponeses católicos assassinados na ação militar de 1937.


Vale lembrar que a Universidade Regional do Cariri – URCA, poderia utilizar sua tecnologia avançada e pessoal qualificado, para, através da Pró-Reitoria de Pós Graduação e Pesquisa – PRPGP, do Grupo de Pesquisa Chapada do Araripe – GPCA e do Laboratório de Pesquisa Paleontológica – LPPU encontrar a cova coletiva, uma vez que pelas informações populares, ela estaria situada em algum lugar da MATA DOS CAVALOS, em cima da Serra do Araripe.


Frisa-se também que a Universidade Federal do Ceará – UFC, no início de 2009 enviou pessoal para auxiliar nas buscas dos restos dos corpos dos guerrilheiros mortos no ARAGUAIA, esquecendo-se de procurar na CHAPADA DO ARRARIPE, interior do Ceará, uma COVA COM 1000 camponeses.


Então por que razão as autoridades não procuram a COVA COLETIVA das vítimas do SÍTIO CALDEIRÃO? Seria descaso ou discriminação por serem “meros nordestinos católicos”?


Diante disto aproveitamos a oportunidade para pedir o apoio nesta luta, à todos os cidadãos de bem, no sentido de divulgar o CRIME PERMANENTE praticado contra os habitantes do SÍTIO CALDEIRÃO, bem como, o direito das vítimas serem encontradas e enterradas com dignidade, para que não fiquem para sempre esquecidas em alguma cova coletiva na CHAPADA DO ARARIPE.


Dr. OTONIEL AJALA DOURADO
OAB/CE 9288 – (85) 8613.1197
Presidente da SOS - DIREITOS HUMANOS
www.sosdireitoshumanos.org.br

8/12/09 12:27

 

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