divórcio ou casamento eterno?...

2009-12-09

CinV (64) Globalização (nº 33)

Globalização é uma das palavras que aparece mais vezes na encíclica (cerca de 20 vezes) especialmente o nº 42, onde faz uma análise mais desenvolvida
Contudo, neste nº 33, Bento XVI afirma que, desde Paulo VI, “a novidade principal foi a explosão da interdependência mundial,” mais conhecida por globalização. Originária dos países desenvolvidos acabou por se estender a todo o planeta e envolver todas as economias. Trata-se de um fenómeno ambivalente ou mesmo ambíguo:
- por um lado, “foi o motor principal para a saída do subdesenvolvimento de regiões inteiras e, por si mesmo, constitui uma grande oportunidade”, que poderia servir de exemplos a muitas outras regiões e países;
- por outro, porque ldevido à falta do “guia da caridade na verdade, este ímpeto mundial pode concorrer para criar riscos de danos até agora desconhecidos e de novas divisões na família humana”.

João XXIII tinha já intuído o fenómeno (MM 208-220) e Paulo VI falara mesmo dele (PP 3), até porque entretanto tinham surgido condições para o seu aparecimento:
- no campo sócio-político, a criação da ONU (1945) com os objectivos de organizar um mundo destruído pela guerra e de evitar novos conflitos armados;
- no campo económico, a criação de instituições financeiras internacionais, como o FMI ou o Banco Mundial, destinadas a reorganizar a economia mundial desregulada com a guerra.

Como vimos, a globalização é um fenómeno com aspectos negativos e positivos.
Dos aspectos negativos, podem referir-se a criação de fracturas sociais de carácter estrutural:
- a fractura homem-natureza, devido à sua febre desenvolvimentista que quebrou o equilíbrio planetário com a crescente poluição e a produção de resíduos não recicláveis;
- a fractura produtivos-improdutivos, com o triunfo definitivo do capitalismo financeiro, que vitima sobretudo as pessoas e os povos improdutivos;
- a fractura capital-trabalho, com a sua lógica do lucro, geradora de violações graves dos princípios estruturantes da dignidade da pessoa e da família humana:
- opção pelos pobres: mil milhões de pessoas vivem com menos de um dólar por dia;
- destino universal dos bens: 60% da população mundial detém apenas 5,6% da riqueza;
- solidariedade: fomenta as desigualdades e condiciona as ajudas;
- subsidiariedade: recusa ou minimiza a participação dos cidadãos e dos países.
Do lado dos aspectos positivos, deve creditar-se-lhe a grande oportunidade para uma crescente tomada de consciência:
- ecológica, que levar-nos-á a um novo relacionamento com o meio ambiente, a três níveis: reconciliação consigo mesmo (ecologia mental), convivência com os outros (ecologia social) e respeito para com a natureza (ecologia ambiental);
- planetária, qua judará a interiorizar que todos somos cidadãos de um único mundo e responsáveis por todos (SRS 38) e que para problemas globais só pode haver soluções globais.

“Por isso, conclui Bento XVI, a caridade e a verdade colocam diante de nós um compromisso inédito e criativo, sem dúvida muito vasto e complexo. Trata-se de dilatar a razão e torná-la capaz de conhecer e orientar estas novas e imponentes dinâmicas, animando-as na perspectiva daquela «civilização do amor», cuja semente Deus colocou em todo o povo e cultura”.

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