divórcio ou casamento eterno?...

2009-12-10

CinV (65) Civilização do Amor

A melhor resposta à globalização económica está na globalização do amor. Aliás é este o grande desafio dos cristãos: testemunhar o amor de Deus, que quis amar-nos em primeiro lugar e de modo gratuito, e o amor ao próximo, que tem de ser sinal e prova desse amor que Deus nos tem, porque “amor a Deus e amor ao próximo fundem-se num todo: no mais pequenino, encontramos o próprio Jesus e, em Jesus, encontramos Deus” (DCE 15).
Para melhor responder aos desafios da globalização, é instrutivo termos presente dois episódios bíblicos: a torre de Babel (Gn 11,1-9) e o Pentecostes (Act 2,1-13). Ambos são modelos de universalismo, mas assentam em diferentes concepções de unidade:
- na Torre de Babel, a unidade anula as diversidades humanas (todos falam uma mesma língua e todos constroem uma mesma obra); no limite, conduz à negação do sujeito e à dispersão das pessoas tornadas incapazes de comunicarem e de se entenderem;
- no Pentecostes, a unidade respeita a diversidade das pessoas (cada um ouve a Palavra de Deus na sua língua), permitindo que cada um entenda e se possa abrir aos outros sem deixar de ser ele próprio (todos são capazes de entender na sua própria língua) numa perspectiva de unidade orientada para o desenvolvimento autêntico de todas as pessas e da pessoa na sua totalidade.

Daqui se percebe que é obrigatória a passagem de Babel para o Pentecostes. A oscilação entre o particularismo e o universalismo, ao longo de todo o AT, culminou com o universalismo da comunidade cristã potenciado por Jesus Cristo que nos "permite" chamar “Abba, Pai” (Gal 4,6; Rom 8,15), isto é, nos faz perceber que ao tornarmo-nos filhos de Deus, filhos do mesmo Pai, nos tornámos irmãos de todos os homens. Perceber esta fraternidade universal não decorre automaticamente da natureza humana, pois só pode ser alcançado pelo dom do Espírito de Jesus. Desta fidelidade ao dom de Jesus decorrem três consequências fundamentais para a globalização:
- a radical igualdade de todos, o que exclui qualquer discriminação;
- a legítima diversidade entre as pessoas; o que exclui todo o uniformismo;
- estas diferenças devem ser vistas num perspectiva secundária frente ao que é fundamental: a salvação de Deus que se manifesta na filiação e na fraternidade; o que exclui a absolutização de qualquer uma das formas de diversidade.

Compete, pois, a todos os que se reconhecem no universalismo do Pentecostes lutar para que a globalização se oriente neste sentido, recusando o de Babel, sendo agentes e protagonistas desta civilização nova que, para os cristãos, sempre na fidelidade ao Espírito do Pentecostes e na esperança da sua promessa de fazer “novas todas as coisas” (Ap 21,5), deve assumir a configuração:
- de uma “cultura da solidariedade” (SRS 38-40);
- de uma “cultura da doação”: “A economia tornar-se-á mais humana mediante um conjunto de reformas a todos os níveis, inteiramente orientadas para o melhor serviço ao verdadeiro bem comum, isto é, mediante uma visão ética fundamentada sobre o valor infinito de cada homem e de todos os homens; uma economia que se deixa inspirar pela necessidade de criar relações entre os povos, com base num constante intercâmbio de dons, numa verdadeira cultura da doação que deve capacitar todos os países para responder às necessidades dos menos afortunados”("Cor Unum"; A fome no mundo (4.Out.1996), 40);
- da “civilização do amor”: “A sua dialéctica não será o ódio, a disputa, a avareza, mas o amor, o amor gerador de amor, o amor do homem para com o homem, não por um qualquer interesse transitório e equívoco ou por alguma condescendência amarga e mal tolerada, mas por amor a Ti: a Ti, ó Cristo, descoberto no sofrimento e na necessidade de todos os nossos semelhantes. A ‘civilização do amor’ prevalecerá no meio da inquietação das implacáveis lutas sociais e dará ao mundo a sonhada transformação da humanidade finalmente cristã” (Paulo VI; Homilia de encerramento do Ano Santo: 25.Dez.1975).

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