divórcio ou casamento eterno?...

2011-08-20

Bento XVI e as Jornadas Mundiais da Juventude

NOTA PRÉVIA: Não sei o que se passa com os meus posts ultimamente que aparecem com frases com letra mais pequena, o fundo vai variando, etc. Mas, como não sei resolver o assunto, aqui vai como sair. O essencial é o conteúdo. Obrigadinho e desculpem pelo mau jeito!


A visita do Papa a qualquer ponto do mundo é sempre acompanhada da mesma “cassete”: manifestações contra os gastos que disfarçam a incapacidade congénita de aceitar os que pensam diferente. É bem triste que estes grupos não tenham mais nada para propor perante a mudança de paradigma por que passa a história contemporânea: algo de diferente, de criativo, de inovador, de subversivo desta ordem injusta, da qual certamente o Papa não será o verdadeiro modelo. Gente nova e idosa, mas tão velha de ideias e de ideais para a construção de uma sociedade mais humano, mais fraterna, mais solidária, que pratique a tolerância, que aposte no diálogo (não foi o papa impedido de falar numa universidade italiana; não é a universidade – universitas – o espaço privilegiado para o confronto de ideias, de conceitos, de propostas de futuro?). Assim se percebe que não tendo nada de novo a não ser a habitual cassete, só tenham para propor condenações e anátemas, tentação a que a Igreja hierárquica também tem dificuldade em resistir, esquecendo que a misericórdia de Deus não é apenas uma bela doutrina, mas uma realidade, que se fosse praticada séria e continuamente, decerto seduziria muito mais gente do que condenações.

Quanto à JMJ, o papa deu algumas respostas interessantes aos jornalistas no avião.
Classificou-as "como um sinal, uma cascata de luz (que) dão visibilidade à fé, visibilidade à presença de Deus no mundo e, assim, dão a coragem para ser crentes”. Reconheceu uma realidade bem real que a própria Igreja não tem discutido com a devida solicitude e urgência: “Com frequência, os crentes sentem-se isolados neste mundo, quase perdidos”. Alguém sabe porquê? O que se tem feito para responder a esta situação de diáspora angustiante pelo menos para pequenos grupos que tentam comprometer-se segundo o Evangelho de Jesus de Nazaré? Por isso, o papa vê uma resposta nestas Jornadas: “Aqui, vêem que não estão sozinhos, que existe uma grande rede de fé, uma grande comunidade de crentes no mundo, que é belíssimo viver nesta amizade universal e, dessa maneira, nascem amizades que superam as fronteiras das diferentes culturas, dos diversos países. O nascimento de uma rede universal de amizade que une o mundo com Deus é uma importante realidade para o futuro da humanidade, para a vida da humanidade de hoje”.
Mas ele próprio bem sabe isto não basta, até porque não estamos a assistir ao nascimento de "uma rede universal de amizade", como ele próprio reconheceu na última encíclica: "A sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos" (CinV 18). Foi, por isso certamente, que, quando lhe perguntam que frutos espera, deu a resposta clássica que também é verdadeira: "A sementeira de Deus sempre é silenciosa, não aparece imediatamente nas estatísticas”. E explicitou melhor: “A semente que o Senhor semeia com a JMJ é como a semente de que o Evangelho fala: uma parte cai no caminho e perde-se; uma parte cai na pedra e perde-se; uma parte cai nos espinhos e perde-se; mas uma parte cai em terra boa e dá muito fruto. É precisamente isso o que acontece com a sementeira: muito se perde e isso é humano”. Para concluir: “Certamente que muito se perde: não podemos dizer que, a partir de amanhã, recomeça um grande crescimento da Igreja. Deus não age assim. Cresce em silêncio. Com outras palavras do Senhor, a semente de mostarda é pequena, mas cresce e converte-se numa grande árvore. Para muitas pessoas, será o começo de uma amizade com Deus e com os outros, de uma universalidade de pensamento, de uma responsabilidade comum que realmente mostra que estes dias dão fruto”.
Mas também sabe que não são as grandes multidões que dão a medida da fé da Igreja: nem pela quantidade exterior nem pela qualidade interior. O importante foi há muito definido por Paulo VI: “A finalidade da evangelização, portanto, é precisamente esta mudança interior; e se fosse necessário traduzir isso em breves termos, o mais exacto seria dizer que a Igreja evangeliza quando, unicamente firmada na potência divina da mensagem que proclama, procura converter ao mesmo tempo a consciência pessoal e colectiva dos homens, a actividade em que eles se aplicam e a vida e o meio concreto que lhes são próprios. Estratos da humanidade que se transformam: para a Igreja não se trata tanto de pregar o Evangelho a espaços geográficos cada vez mais vastos ou populações maiores em dimensões de massa, mas de chegar a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação. Poder-se-ia exprimir tudo isto dizendo: importa evangelizar, não de maneira decorativa, como que aplicando um verniz superficial, mas de maneira vital, em profundidade e isto até às suas raízes, a civilização e as culturas do homem, no sentido pleno e amplo que estes termos têm na Constituição Gaudium et Spes, a partir sempre da pessoa e fazendo continuamente apelo para as relações das pessoas entre si e com Deus.” (Evangelii Nuntiandi, 18-20; o itálico é meu).

Deixo aqui algumas passagens do discurso aos jovens.
“Há palavras que servem apenas para entreter e passam como o vento; outras instruem, sob alguns aspectos, a mente. As palavras de Jesus, pelo contrário, têm de chegar ao coração, radicar-se nele e modelar a vida inteira. Sem isso, ficam estéreis e tornam-se efémeras; não nos aproximam dele. E, deste modo, Cristo continua distante, como uma voz entre muitas outras que nos rodeiam e às quais estamos habituados. Queridos jovens, escutai verdadeiramente as palavras do Senhor, para que sejam em vós «espírito e vida» (Jo 6, 63), raízes que alimentam o vosso ser, linhas de conduta que nos assemelham à pessoa de Cristo, sendo pobres de espírito, famintos de justiça, misericordiosos, puros de coração, amantes da paz.
Aproveitai estes dias para conhecer melhor a Cristo e inteirar-vos de que, enraizados nele, o vosso entusiasmo e alegria, os vossos anseios de crescer, de chegar ao mais alto, ou seja, a Deus, têm futuro sempre assegurado, porque a vida em plenitude já habita dentro do vosso ser. Fazei-a crescer com a graça divina, generosamente e sem mediocridade, propondo-vos seriamente a meta da santidade. Perante as nossas fraquezas, que às vezes nos oprimem, contamos também com a misericórdia do Senhor, sempre disposto a dar-nos de novo a mão e que nos oferece o perdão no sacramento da Penitência. (Assim) mostrareis uma alternativa válida a tantos que viram a sua vida desmoronar-se, porque os alicerces da sua existência eram inconsistentes: a tantos que se contentam com seguir as correntes da moda, se refugiam no interesse imediato, esquecendo a justiça verdadeira ou se refugiam em opiniões pessoais em vez de procurar a verdade sem adjectivos. Há muitos que, julgando-se deuses, pensam que não têm necessidade de outras raízes nem de outros alicerces para além de si mesmo. Desejariam decidir, por si sós, o que é verdade ou não, o que é bom ou mau, justo ou injusto; decidir quem é digno de viver ou pode ser sacrificado nas aras de outras preferências; em cada momento dar um passo à sorte, sem rumo fixo, deixando-se levar pelo impulso de cada instante. Estas tentações estão sempre à espreita. É importante não sucumbir a elas, porque na realidade conduzem a algo tão fútil como uma existência sem horizontes, uma liberdade sem Deus. Pelo contrário, sabemos bem que fomos criados livres, à imagem de Deus, precisamente para ser protagonistas da busca da verdade e do bem, responsáveis pelas nossas acções e não meros executores cegos, colaboradores criativos com a tarefa de cultivar e embelezar a obra da criação.
Sede prudentes e sábios, edificai as vossas vidas sobre o alicerce firme que é Cristo. Esta sabedoria e prudência guiarão os vossos passos, nada vos fará tremer e, em vosso coração, reinará a paz. Então sereis bem-aventurados, ditosos, e a vossa alegria contagiará os outros. Perguntar-se-ão qual seja o segredo da vossa vida e descobrirão que a rocha que sustenta todo o edifício e sobre a qual assenta toda a vossa existência é a própria pessoa de Cristo, vosso amigo, irmão e Senhor, o Filho de Deus feito homem, que dá consistência a todo o universo.”

Com vão reagir os jovens cristãos a estas palavras. A resposta é evidente e foi dada aos jornalistas.
E os não crentes? O que tiram daqui? Talvez a passagem das Bem-aventuranças. Mas que linguagem para os jovens de hoje sem futuro, desintegrados, sem sentidos de vida, abandonados pelas políticas sociais e hostilizados e por vezes ostracizados pela sociedade e pela opinião pública? Seriam estas palavras que precisavam de ouvir? Ou o discurso era só para dentro? Se era, não devia ser, pois aquelas são Jornadas Mundiais da Juventude. E a juventude é formada por crentes, não crentes, desesperados e esperançosos.
Não sei dar lições, muito menos ao papa.
Mas pressinto que ou a Igreja encontra as palavras apropriadas para esta juventude e esta sua dura realidade, bem mais dura que a dos adultos, ou então não a reconquista, porque não a seduz com palavras libertadoras que ela entenda.
E este é um desafio sobre o qual todos mandam palpites, mas ninguém se senta a procurar soluções adequadas. Onde está a verdadeira pastoral da Juventude? Como se prepara? Com quem? Parte-se desta realidade e constrói-se nesta realidade?

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