divórcio ou casamento eterno?...

2012-11-12

Caminhos de Deus, caminhos para Deus


O primeiro encontro que Deus teve comigo foi na primeira comunhão. Certamente antes a minha mãe, a minha catequista, certamente me falou de Deus, mas não me lembro. Foi naquele momento solene que a minha memória recorda como o primeiro encontro. E foi muito negativo. Lembro-me perfeitamente de uma rapariguinha da minha idade que estava ao pé de mim ter começado a chorar compulsivamente ao comungar. Porque tinha “tocado com a hóstia nos dentes”. Este era um dos ensinamentos solenes que nos era ministrado. Eu possivelmente nunca tinha tomado consciência da imensidão desse pecado: “tocar com a hóstia nos dentes”. E recordo-me de ter ficado perplexo perante este Deus que fazia chorar a minha companheira. Aquela ideia de um Deus castigador por coisas tão insignificantes começou a perturbar-me. Fiquei com medo desse Deus.
Depois nos tempos seguintes não tenho nenhuma memória especial. Continuava a rezar – em minha casa rezava-se o rosário todos os dias – a ir à missa, a comungar, a cumprir as Primeiras Sextas-feiras e os Primeiros Sábados. Não sei bem como ligava estas coisas todas com Deus.
Mais tarde, adolescente, no Seminário, o problema voltou e voltou ainda com essa imagem da menina a chorar. Comecei a interrogar-me sobre Deus, a procurar Deus. Sentia o coração perturbado, a dar voltas. Uma ou outra pessoa começou a falar de Deus Amor, mas eram mais os dedos inquisitoriais a falar de castigo, de condenações ao inferno. Esta pastoral do medo ainda mais me empurrava para mais depressa descobrir quem era Deus, pois eu não conseguia entender um Deus tão mau que nos mandava quase todos para o inferno. Havia qualquer coisa que não batia certo. Foi pois um grande alívio quando, cansado desta luta interna, a partir de dada altura descobri Jesus Cristo ou Ele me descobriu a mim. E essa foi a descoberta mais importante da minha vida, a que me marcou indelevelmente para sempre. Descobri rapidamente que essa de “bater com a hóstia nos dentes” era mais uma de muitas normas, cangas, que uns senhores de Roma atiravam sobre nós, mais preocupados com acessórios ridículos do que com o essencial. Então comecei a meditar mais profundamente o Evangelho, a Boa Nova de Jesus Cristo. Eu que me considerava um pecador quase condenado – porque não obedecia aos meus superiores, porque tinha maus pensamentos e más acções, porque não rezava as três Avé Marias ao deitar – encontrava na parábola do Filho Pródigo, naquele Pai que esperou todos os dias pelo filho pecador e depois fez uma festa de arromba pelo seu regresso – porque estava perdido e encontrou-se – uma calma interior tão grande que os meus pecados pareciam insignificâncias. E aquele Pai era o “meu” Deus, o Deus que eu procurava, o Deus que me enchia a alma. Era um Pai que amava infinitamente os seus filhos pecadores. Amava-os, percebi mais tarde, não porque eram bons, mas porque Ele, Deus, é a Bondade e Amor infinitos. Talvez na altura tivesse começado a viver não só de uma espiritualidade exterior, feita de ritos e orações memorizadas e cadenciadas, mas de uma outra espiritualidade mais interior que me permitiu descobrir que Deus é Pai, é meu Pai (a ideia é de Tolentino Mendonça).
Mas acho que ainda não percebera que Deus é nosso Pai, é “Pai Nosso”. Esta ideia surgiu mais tarde, quando me apaixonei pelo Sermão da Montanha e procurava lá as regras de vida, as orientações para melhor seguir o meu grande Amigo, Jesus Cristo.
Mas vou deixar esta história para a próximo post.

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

ESpero que o próximo post não demore, porque estou mesmo curiosa.
Bem-haja pela partilha.
Abraço.
CG

14/11/12 16:33

 

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