divórcio ou casamento eterno?...

2013-11-03

Não é um adeus, é um até já...

Este Blogue terminou porque o seu autor, José Dias da Silva, faleceu em 15/07/2013.

Há mais de 7 anos que o Zé lutava contra um cancro. Apesar de muitas limitações e algum sofrimento foi um tempo extremamente rico de afectos da família e dos amigos.

Foi sempre tratado com grande profissionalismo, por todos os funcionários dos serviços de saúde públicos a que teve de recorrer. Mas sobretudo deve às equipas médicas de enfermagem e de auxiliares de acção médica da UTAL (Unidade de Tumores do Aparelho Locomotor) dos Hospitais da Universidade de Coimbra, que o acompanharam dedicada e empenhadamente nos longos e difíceis dias de tratamento, a grande qualidade de vida de todos estes anos.

Graças a todo este apoio conseguiu escrever nos seus dois blogues com alguma regularidade, quinzenalmente para o jornal diocesano, mensalmente para uma revista missionária e pontualmente para outros jornais e revistas. Ainda colaborou em debates, fez conferências e manteve-se como membro activo das Comissões Justiça e Paz, Nacional e Diocesana de Coimbra.
No entanto, o último ano de vida foi já “pouco produtivo”, como ele dizia. A doença foi-se espalhando e sentia-se sobretudo cansado, mesmo para filosofar com a ajuda do computador.

Continuou até ao fim a escutar a palavra de Deus, a acolher e cuidar dos amigos e família, a telefonar diariamente à Mãe, a ouvir informações e lamentações da Fátima, a partilhar alegrias e tristezas com a Nata, o David e a sua irmã Lenita e a todos foi deixando conselhos e consolo.
Resolvemos criar, em memória dele, um outro blogue, uma espécie de “espaço-tempo” em que esteja presente a sua forma de viver e os valores que nos deixou por herança, aberto a todos os que quiserem vir espreitar, partilhar, comentar.
 
 
Fátima, Renata e David

Post inacabado: Duas questões vivenciais



Quando acabei o meu curso universitário, confrontei-me com duas questões.  


Primeira.

Se, como acreditava, Deus é o Senhor da história e quer precisar de nós para a fazer avançar, significa isso que Deus tem um projecto para cada um? A minha resposta era sim, baseando-me a parábola dos talentos e no facto de cada um de nós ser único e irrepetível. Esta resposta levava a outra questão: como podia eu saber qual era? Através de uma atitude de escuta e de busca, procurando fazer uma leitura dos sinais dos tempos: o que via à minha volta? Para onde me levava a minha sensibilidade? Mas tudo isto implicava um coração livre, suficientemente aberto à palavra de Deus e aos acontecimentos para poder aceitar o projecto de Deus para mim e pôr de lado outros projectos meus tão legítimos mas que não eram para já o mais importante. Não era, nem é fácil: a disponibilidade de coração implica um espírito de pobreza, uma nudez espiritual que me deixa livre para aceitar a vontade de Deus, para dar aquele fiat (faça-se) de Maria, de Saulo/Paulo e de tantos outros; a capacidade de escuta obriga a uma atenção redobrada à realidade concreta e a uma avaliação dos vários sinais e gestos alguns tão imperceptíveis que com facilidade se ignoram.

Esta é uma questão vital para poder viver o meu ser homem e ser cristão. E é uma questão nunca totalmente resolvida e continuamente posta em debate. Não basta ter obtido uma resposta, mas é preciso pôr-se em causa a cada momento. Cada opção de vida depende desse ou desses projectos. tem sido, por isso, uma das minhas maiores dificuldades.

 
Segunda.

A segunda questão tinha a ver com o ser cristão, com o viver cristão. Ser cristão é o mesmo que ser (um bom) cidadão? Ou acrescenta-lhe alguma coisa?

Das leituras que fazia e dos comentários que ouvia, parecia concluir-se que na prática o resultado era o mesmo; a fundamentação é que era diferente. Mas eu não ficava satisfeito com tal conclusão. Até porque no Sermão da montanha havia duas citações que me surpreendiam: “Porque se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos?” (Mt 5,47) e “Não vos preocupeis dizendo: ‘Que comeremos, que beberemos ou que vestiremos?’ Os pagãos, esses sim, afadigam-se com tais coisas” (Mt 6,31-32). Como quem diz: isso, actuar esse nível até os pagãos; dos cristãos, espera-se mais alguma coisa. Há uma diferença qualitativa. Mas qual. 

Entretanto aconteceu um episódio interessante. Tinha ido de carro dar um passeio, quando parei numa praça onde poderia estacionar o veículo. Esperei alguns minutos e lá apareceu um lugarzinho. Avancei. E preparava-me para estacionar quando me apareceu um senhor que em disse: “Olhe eu já estou aqui há mais tempo para estacionar, portanto este lugar é meu.” E continuou: “Mas, porque sou comunista espero mais um bocado e deixo-lhe este lugar pele e alto ara si.” Olhei para ele de alto a baixo e lá estacionei não encontrando outras palavras que não fosse o velho obrigado. Um dos colegas comentou: “Já viram a lata. Sou comunista dispenso o meu lugar”. Retorqui-lhe: “Quantas vezes disseste Sou católico, portanto vou prescindir disto ou daquilo”. Fiquei a meditar com os meus botões.

Fiquei mais atento ao Sermão da Montanha. E lá encontrei uma passagem  que passo a citar: “, (...)



Este texto não foi publicado pelo Zé Dias mas encontrava-se no computador dele ainda em forma de rascunho, na altura da sua morte. No entanto, como estava praticamente completo decidimos publicá-lo. Ficou a faltar a citação final e provavelmente a sua conclusão.