A propósito dos Dez Mandamentos
Partindo do princípio de que o diálogo que desejo continuar com o caro amigo Peregrino (que nome tão lindo e tão significativo: todos somos peregrinos nesta vida, mas nem sempre nos lembramos disso) pode interessar a outros amigos, vou passar para esta janela mais alargada o meu comentário.
Gostaria de voltar às minhas "reservas" aos Dez Mandamentos, porque acho que tocamos no âmago do ser cristão.
Como já referi tirando a primeira tábua (a vertical), os outros mandamentos (com excepção do 4º por razões óbvias) são todos formulados na negativa, o que de si já diz muito.
E daqui a minha primeira observação: o cristão não pode ser alguém que se contente apenas em não fazer o mal nas suas várias vertentes (não matar, não cometer adultério, não roubar, não mentir, não..., não...) mas tem de ser alguém que faz o bem, que tem de se comprometer com a construção do bem. Aliás a resposta de Jesus ao jovem rico é muito clara: “se te queres salvar, cumpre os mandamentos; mas se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos
pobres e terás um tesouro no céu; e vem e segue-me” (Mt 19,16-22; cf. também Mc 10,17-22; Lc 18,18-23).
Segunda observação: os mandamentos que referi não trazem nada de especificamente cristão. Qualquer sociedade minimamente organizada e respeitadora da dignidade humana tem de cumprir aqueles mandamentos. Qualquer pessoa, mesmo que seja ateia, certamente que “tem” de respeitar aqueles mandamentos
Segunda observação: os mandamentos que referi não trazem nada de especificamente cristão. Qualquer sociedade minimamente organizada e respeitadora da dignidade humana tem de cumprir aqueles mandamentos. Qualquer pessoa, mesmo que seja ateia, certamente que “tem” de respeitar aqueles mandamentos
Daí a questão, que creio ter já colocado nalgum comentário anterior, mas que aqui vou repetir: o que é específico do cristão? Pelo que já referi, para mim, não é cumprir os dez mandamentos. Durante muitos anos me confrontei com esta questão e ao fim de algum tempo descobri três pistas no Sermão da Montanha:
1ª – Universalidade do amor: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem… Por que se amais os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem o mesmo os pagãos (= os não cristãos, mas certamente pessoas honestas e sérias)?” (Mt 5, 44.46). Portanto, o cristão tem de ir para lá do que “os pagãos” fazem.
2ª – Confiança na Providência: “Não vos preocupeis com o dia de amanhã, dizendo que comeremos, que beberemos ou que vestiremos. Os pagãos, esses é que se afadigam com essas coisas; porém o vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso” (Mt 6,31-32). O cristão é o que acredita que Deus é o Senhor da história e age coerentemente com tal convicção
3ª – Ir para lá do que é exigido pelas leis humanas que regulam a nossa sociedade: “Se alguém te quiser tirar a túnica, dá-lhe também a capa. E se alguém te obrigar a andar um milha caminha duas com ele” (Mt 5-40-41). Esta passagem provocatória parece-me apontar para o seguinte: Deves ser capaz de ir além do que a lei te obriga e regeres-te pelas leis da caridade, da solidariedade e da fraternidade nas relações com os outros. A lei não te pode obrigar a amar os outros, mas tu deves amá-los, mesmo que sejam teus inimigos (1ª pista) e em nome desse amor fazer coisas que os outros não fazem habitualmente.
1ª – Universalidade do amor: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem… Por que se amais os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem o mesmo os pagãos (= os não cristãos, mas certamente pessoas honestas e sérias)?” (Mt 5, 44.46). Portanto, o cristão tem de ir para lá do que “os pagãos” fazem.
2ª – Confiança na Providência: “Não vos preocupeis com o dia de amanhã, dizendo que comeremos, que beberemos ou que vestiremos. Os pagãos, esses é que se afadigam com essas coisas; porém o vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso” (Mt 6,31-32). O cristão é o que acredita que Deus é o Senhor da história e age coerentemente com tal convicção
3ª – Ir para lá do que é exigido pelas leis humanas que regulam a nossa sociedade: “Se alguém te quiser tirar a túnica, dá-lhe também a capa. E se alguém te obrigar a andar um milha caminha duas com ele” (Mt 5-40-41). Esta passagem provocatória parece-me apontar para o seguinte: Deves ser capaz de ir além do que a lei te obriga e regeres-te pelas leis da caridade, da solidariedade e da fraternidade nas relações com os outros. A lei não te pode obrigar a amar os outros, mas tu deves amá-los, mesmo que sejam teus inimigos (1ª pista) e em nome desse amor fazer coisas que os outros não fazem habitualmente.
Por isso, acho a chave de leitura dos Dez Mandamentos tão pobre comparada com a do Sermão da Montanha! Ou por outras palavras se não passarmos da lógica (casuística) dos Dez Mandamentos para a lógica (estruturante) do Sermão da Montanha pouco nos resta de cristãos. Digo eu!...
Boa noite, um grande abraço para todos e até daqui a oito ou dez dias, pois amanhã vou para o hospital fazer um novo tratamento e espero voltar no fim de semana, se tudo correr bem. Peço as vossas orações e a vossa amizade para poder suportar com amor e paciência estes próximos dias.
A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam sempre conosco.
A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam sempre conosco.